segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A semente


Rompe, incontinente, ferida da terra, submergindo do centro vermelho das brasas, do núcleo da vida; jorrando, explodindo, em milhões de gotas, meteoros, chuva de fogo. E cada partícula carrega uma semente de vida.

Paremos para ver que pedra é esta que caiu bem perto, aqui. 


Brilha incandescente, emana calor quase que insuportável e seca o ar em toda à sua volta. Mas, aos poucos, bem devagarzinho, vai esfriando, lentamente, deixando ver pedra de vidro em meio a labaredas e fumaça. Depois de fria é diamante gigante de vidro, cristal transparente, translúcido, de uma lucidez ímpar, e olhando atentamente, bem pertinho, percebe que algo vive dentro dele. Que bate um coração bem no centro da pedra e que um novo ser está a ser gerado ali. Começa a se mexer, mas bem reteso, como se os músculos também de pedra fossem, como se o cristal enrijecido, crosta brilhante, se lhe trancasse os pulsos e retivesse qualquer intenção de movimento. Mas aos poucos, bem devagarzinho, gota a gota, a pedra dura vai se dissolvendo. Um pouco de pedrinha que se vai, e mais um pouco e mais outro e outro. Enfim, vê-se liberto, braços abertos, cabeça erguida, pernas em riste, pronto pra enfrentar qualquer batalha.



Já nem precisa de armadura, munição ou armamento, já nem precisa estar presente no momento, contanto que reviva cada gesto, cada olhar de esgueio e o resto é se deixar fluir. Não há segredo, quando se tece a idéia, a idéia cria vida e vai viver por nós a cena. No texto dito pelo ator que o interpreta com a verdade que só a ele interessa, irá contagiar o outro, certamente, e estando posto o jogo, só nos resta jogar, brincar e ser felizes, ainda que tudo acabe quando as luzes se apagarem, quando o último sair do teatro, quando as cortinas se fecharem sobre o palco.


Faça-se o Ator e o Ator foi feito!


"A mais eficiente organização dos homens ainda é um simples arremedo da mais singela disciplina determinada pela administração sideral dos orbes, sistemas solares e das galáxias do cosmo. Um mentor que atinge determinada ciência ao deitar e acorda sabendo mais todos os dias, viaja para dentro de si mesmo e já não morre de doença comum aos humanos, morre lentamente ao não caber em si o vôo da gaivota."  (Ramatís).

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Com vocês, o Diretor


Fomos para a praia felizes da vida, afinal de contas o Diretor da peça estava definido. Não poderia haver desfecho melhor. Nosso convite foi aceito e teremos nosso amigo, diretor, artista plástico, compositor, autor, ator, poeta e sabe Deus o que este homem sabe fazer, CLAUDIO KOCA!
Tivemos a oportunidade de nos conhecer, já lá se vão vinte e tantos anos, nas atividades culturais da cidade de Jacareí. Ator disciplinado, mantem o nome de uma de suas primeiras personagens vividas em palcos da terrinha, quando da montagem de "O Pagador de Promessas", na década de 90 do século passado. De lá pra cá só cresceu e foi trilhando seu caminho até se firmar como um dos expoentes teatrais na cidade e região, consequencia de sua estética refinada, criada pelo homem de sorriso simples e fala cantada.

Desenvolve sistematicamente há mais de dez anos cursos de Iniciação Teatral abertos à juventude da cidade. Esse movimento contínuo, embasado em uma metodologia de trabalho que envolve mais de uma dezena de pessoas por turmas, contribuiu para que a cidade proliferasse em talentos cênicos, muitos advindos dos cursos de Iniciação Teatral do nosso Diretor. Compromisso cultural com a sociedade.



Desenvolveu na cidade ao longo de quinze anos trabalho de reflexão e popularização do consagrado dramaturgo Nelson Rodrigues tendo, juntamente com sua Companhia, a "Cia de Ofertantes", apresentado inúmeros espetáculos na cidade, região e estados, destacando-se os sucessos "Valsa Nº 06", "A Serpente", "Anjo Negro", "Perdoa-me por me traíres", entre outros.


Claudio Koca
Negro consciente, engajado nas lutas dos povos africanos, dos irmãos escravos, estudioso dos orixás, kizombas, sambas, capoeiras, umbandas e candomblés.



Agora Tchekhov se apresenta como novo desafio. Como diria Mestre Coca: "Ah, lá a festança já começou é de hoje! Capoeira, roda de samba... Está bom que está danado!".


Quando uma trovoada tremenda desaba sobre a praça...
Êparrei! Minha mãe!

sábado, 22 de janeiro de 2011

O Mar

O Grupo de Teatro do Percurso começou o ano à todo vapor! Conseguimos definir uma concepção realista ao espetáculo, adaptamos à contento a obra de Tchékhov, definimos parte da sonoplastia e um esboço gráficojá foi delineado em propaganda. O ponto mais importante, a definição do Diretor, conseguiu definir-se semanas atrás e os ensaios para discussão do texto tinha início. Era natural que o Grupo, depois dessas e outras questões elucidadas, fosse curtir as Férias de Verão, passadas as comemorações de Natal e de Feliz 2011!



E do mar, veio a inspiração... O mar já inspirou muita gente e quase todos se desdobram em suas ondas, brancas espumas, conchas na areia, por de sol dourado, gaivotas e a imensidão de água à nossa frente. E vocês acreditam que muita gente que mora lá, pertinho dessa poesia da natureza, passa meses sem ver o mar. A gente que vive meio no quase mato, quase cidade, acha um absurdo. Passar despercebido pelo mar? Não dá. Mas a gente de lá consegue.

Aquela emoção de perder o fôlego, vai se dissipando com suas espumas. A maré baixa leva tudo que há de novo e ficam as coisas corriqueiras do dia a dia. Ou a emoção é a mesma, apenas mais vivida e internalizada que só se pode sentir, sem definir exatamente o que a transmite? Se o ator conseguir expressar a profundidade do oceano sem se afogar em sua imensidão, talvez tenha conseguido caminhar na Praia das Emoções Vividas e viver uma personagem em sua plenitude.


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sinopse da Peça



"O Urso" conta a história de Eliena Popova, que depois da morte do marido resolve se enclausurar entre quatro paredes como esposa fiel e não tirar o luto até o fim de seus dias. Depois de sete meses sem receber ninguém em sua casa, nunca abrindo a porta para conhecidos ou desconhecidos, vê-se em situação inusitada quando Grigori Stepánovicht Smirnov, um tenente reformado da artilharia e senhor de muitas terras, vem cobrar uma dívida que seu finado esposo deixou em haver. A partir daí uma sequencia de situações embaraçosas tem início, de um lado, a viúva, disposta a pagar a dívida mas sem condições naquele instante, insistindo que só teria o dinheiro depois de dois dias, quando seu administrador voltasse da cidade. De outro lado, o credor insatisfeito, não podendo esperar dois dias pois precisa pagar os juros do banco agrícola antes disso. Em meio a desacatos e explicações, o casal vai tecendo um retrato do pensamento da sociedade da Rússia do início do século XX, revelando muitas semelhanças com nossa própria sociedade atual. Uma comédia de costumes escrita em 1888, com um final surpreendente. Abaixo reproduzimos um excerto da peça, ilustrando parte da trama que será apresentada.


(...)
Eliena Popova: Se meu marido deixou uma dívida com o senhor é evidente que vou pagá-la. O senhor me desculpe,mas hoje não disponho desse dinheiro em casa. Depois de amanhã meu administrador voltará da cidade e então mandarei que lhe pague. Mas agora não posso atender a seu pedido. Além disso, hoje completam exatamente sete meses desde a morte de meu esposo e meu estado de ânimo e tal que realmente não estou disposta a tratar de assuntos financeiros.

Grigori Stepanovitch Smirnov: E meu estado de ânimo é tal que se amanhã eu não pagar os juros, então estarei frito. Vão hipotecar a minha propriedade!

Eliena Popova: Depois de amanhã o senhor receberá o seu dinheiro.

Grigori Stepanovitch Smirnov: Preciso do dinheiro hoje e não depois de amanhã.

Eliena Popova: Penso não ter sido clara em minhas palavras! Hoje não tenho condições de lhe pagar a dívida!

Grigori Stepanovitch Smirnov: E eu penso não ter sido suficiente claro em minhas palavras. Eu não posso esperar até depois de amanhã. (...)

Em breve.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Contexto de Tchèkhov


No século XIX, a Rússia juntamente com a Inglaterra, a França, a Alemanha e a Áustria, era uma das maiores potências européias, porém enquanto os outros países cresciam, faziam reformas e se industrializavam, a Rússia não se modernizava. Era considerado um país atrasado em relação aos demais. Sua economia baseava-se na agricultura. Os servos trabalhavam, mas os senhores feudais não tinham o menor interesse de modernizar as plantações. O país era governado pelo Czar (Imperador), que tinha poder absoluto, ou seja, todos estavam submetidos a ele, inclusive a Igreja Católica Ortodoxa.

Entre os anos de 1854 e 1856, a Rússia entrou em guerra com a Inglaterra, França e Turquia, mas foi derrotada justamente por causa do atraso em que se encontrava o país.

                              
Então, o czar Alexandre II tomou algumas providências:
- Aboliu a servidão.
- Vendeu terras aos camponeses.
- Mandou ocupar novas áreas agrícolas.

Tudo isso trouxe benefícios para o país que cresceu e se tornou exportador de grãos, além de ter favorecido o aumento da população. Mas, esse aumento trouxe algumas consequências graves, como por exemplo, a dificuldade de se encontrar emprego e a baixa produtividade agrícola gerando fome e revolta. 


Nesse contexto nasce nosso autor e com certeza todas essas questões acabariam por influenciar sua obra literária, vinte anos mais tarde.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Quem somos nós?


Quem somos, de onde viemos e para onde vamos? Essas perguntas acompanham a humanidade desde os primórdios... A eterna busca do auto conhecimento, do conhecimento do outro e do conhecimento universal. Mas este pequeno Grupo vem do desejo de mostrar, através do Teatro, a complexidade da alma humana e suas eternas conquistas e desventuras. Andrea Campos (atriz e diretora) e Malbatahan do Nascimento (ator) são dois grandes parceiros que já se encontraram no palco no ano de 2000, nos estudos desenvolvidos sobre a obra de Molière, dramaturgo francês do século XVI, o que rendeu-lhes os prêmios de Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Ator, respectivamente, no Festival Internacional de Teatro da cidade de São José dos Campos, SP - edição 2000, com a peça "O Médico à Força", com direção do consagrado diretor Sylnei Siqueira, prêmio de Melhor Diretor no referido Festival. De lá pra cá ambos desenvolveram trabalhos individuais nas cidades de Jacareí, Santa Branca e região e agora, juntos novamente, para a montagem da peça teatral "O Urso", de Tchékhov. Com a direção do espetáculo sob a responsabilidade de Claudio Koca o grupo se completa em capacidade artística e técnica. Agora refazem os estudos cênicos desses anos numa pesquisa onde a grande descoberta resulta nas incertezas e dúvidas que se revelam quanto mais se aproxima da complexidade do ser humano, com suas virtudes e crueldades. 

Para onde vamos? A incógnita permanece. Não poderia ser diferente. Na vida, diferente do Teatro, não temos certeza da última cena. Maktub!